2016-02-09

A simplicidade na infância


 Três crianças, imaginação e um lugar onde podiam ser livres... Essa foi a minha infância. Minha prima tinha uma casa no campo, uma casa rústica, sem tecnologias, com mato em roda, um riozinho baixo e gelado, morros, árvores. Um cenário perfeito para usufruir da imaginação de uma criança. Imaginem então de três crianças, com diferença de dois anos uma da outra. Foi nesse mundo que eu tive meu primeiro contato com o jornalismo, mesmo que só por brincadeira, tínhamos um jornal, chamado "Gazeta Besteirol". Nesse "jornal" tínhamos espaço para tudo, esportes, política, meio ambiente, moda, eventos, e algo mais que a nossa imaginação mandava. Como éramos apenas três "redatores" usávamos pseudônimos, fomos Catia, Lu, Jefferson, Wellington Saci, Tata, Dani, entre outros. Era muito divertido trabalhar na construção do jornal, todo feito à mão, ilustrado e colorido por nós. Era uma verdadeira festa, ficávamos horas em cima das folhas escrevendo e criando, e no final somente uma pessoa lia o jornal, minha tia, nossa maior e única fã. 

 Entre nossas descobertas da infância estava umas frutinhas que chamávamos de "São João", mas posteriormente descobrimos que seu nome era Mirtilo. Essas frutinhas deixavam a língua com um tom arroxeado, essa foi uma grande descoberta. Um dia, ao comermos essas frutas, subimos em um tronco e de repente eu comecei a cantar "Somos línguas roxas...". Foi o estopim para criarmos nossa "banda", chamada claro de "Os Línguas Roxas". Com meu irmão na bateria, minha prima na guitarra e eu no vocal; ensaiávamos, compúnhamos, criávamos palcos para os nossos shows, instrumentos e até mesmo ingressos e figurinos. É claro em nossos shows não podiam faltar as línguas roxas, então saiamos a juntar o maior número possível de São João que encontrássemos. Como crianças, as nossas músicas não passavam de gritarias embaladas por batuques, e mais uma vez minha tia era a encarregada de ver e ouvir tudo o que fazíamos. 

 Para nós, (talvez não para a minha tia) nossa infância foi muito divertida, éramos crianças felizes, livres para criar as mais diversas brincadeiras e formas de passar o tempo. Além do jornal e da banda, brincávamos o dia todo, nos aventurávamos pelos matos, e claro tomávamos banhos no rio. Hoje eu olho para trás e me sinto privilegiada por ter tido essa infância simples e alegre. As crianças dessa nova geração não saberão o que é toda essa alegria e simplicidade, hoje em dia os brinquedos são em sua maioria eletrônicos, as crianças vivem fechadas em casa com a companhia das TVs, computadores, celulares ou videogames. Os pais não têm mais tempo de parar e brincarem com seus filhos, pois eles também foram seduzidos pela tecnologia e hoje em dia não param um segundo sequer. Acredito que isso que falta para as crianças de hoje, atenção, tempo reservado pelos pais só para elas. Educar uma criança hoje está muito difícil por essa falta de tempo dos pais. É preciso saber usar o tempo, se dedicar na medida certa para cada coisa, é preciso se desconectar. É preciso mais simplicidade, saber ser pai, saber ser mãe!

Jesse Lopes

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