2016-06-23

Recomendações


     Sempre cansada, sem motivos para tal; cheia de bolsas, sem precisão de tamanho volume; cheia de pressa, mesmo estando adiantada; alienada ao mundo a sua volta, focada na pequena tela de 4.5 polegadas; preocupada com mil coisas, que não mereciam preocupação... Assim era eu naquele sábado à tarde na rodoviária de Caxias do Sul, tentando voltar para casa. Buscando me libertar daquela cidade sufocante, do emaranhado de prédios e poucas árvores. Com sede do aroma do campo, da maciez da minha cama, do conforto de estar em casa. 

    Na fila esperando minha vez para garantir a passagem, recordando das recomendações para não usar o celular em ambientes públicos, sempre a mesma história de assalto que todos tem. Por um pequeno momento de obediência repentina, o celular guardado foi. E então me vi obrigada a prestar atenção ao redor, por aqueles breves dez minutos antes do celular ser novamente exposto. 

    Ainda exausta e cheia de bolsas pesadas andando pelo corredor sombrio e praticamente vazio buscando a escada que levaria para o setor de embarque. Ao pé dela, um homem sentado, com muletas ao lado, com uma perna e meia somente. E a frase surpreendente: “Oi! Tudo bem?” e a resposta corriqueira em meio ao espanto: “Oi, tudo bem e com você?” Ai a resposta por parte dele que foi surpreendente e da menina apressada arrancou um sorriso tímido “Tudo, você é muito simpática.” 

  Aquele momento que mil coisas passam pela cabeça, porém o silencio preenche o espaço vazio. E a menina segue seu caminho sem ao menos perguntar se ele precisava de algo. Afinal ela foi recomendada a não falar com estranhos.

Jesse Lopes

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